Saturday, April 29, 2006

Antigas tradições - Parte I

Era uma tarde como qualquer outra no fim do outono: fria, nublada e triste. A floresta ficava linda em dias assim, coberta com uma rala névoa que quase tocava as copas dos pinheiros. Eram 3 da tarde, mas parecia ser umas 7, perto do anoitecer, tão cinza estava o dia, ou seriam os olhos saudosos de meu irmão?

- Fred, o que você está fazendo no meio da mata?
- O que te parece Rick?

Meu irmão, apesar da pouca idade, tinha um semblante pesado como o tamanho de seu fardo e uma força de vontade maior do que parecia caber nos seus 12 anos.

- Você está treinando magia do século XVIII, inventaram algo chamado tecnologia nos últimos... deixa eu ver 150 anos?
- Não me importo de treinar o que nosso avô nos ensinou, assim eu não esqueço dele como você – disse com os olhos marejados.

Aproximei-me dele que quando percebeu virou-se contra mim em posição de ataque, estava pronto para manipular os ventos, mas nem precisei do pentagrama que possuía no pescoço, apenas continuei andando até que por fim me abraçou soluçando.

- Também estou com saudades.

As coisas estavam difíceis, por isso eu havia saído de nossa pequena propriedade no País de Gales e me mudado para Liverpool, na Inglaterra. Precisava sustentar minha velha avó e meu irmão que não quiseram vir comigo e manter a tradição de lutar por suas terras assim como fizera nosso avô até que não lhe restassem mais forças para lutar pela família, agora eu fazia isso, de longe. Talvez por não querer enfrentar a morte da pessoa mais importante de minha vida, meu tutor, meu pai, talvez por querer renegar nosso parentesco druida e simplesmente deixar o mundo moderno me possuir. Apesar de não saber ao certo, tomava conta de meu irmão como amigo, não como pai ou irmão e de minha velha avó como tudo de mais valioso que possuía.

- Então os dois já se encontraram, você está chorando Fred? – perguntou docemente a senhora McFire.
- É vó, ele ficou molenga sem mim aqui e tava morrendo de saudades. – disse eu em tom provocante.
- Saudades o caralho, esse escroto me bateu. – disse já rindo o fedelho.

Entramos e nos pomos a comer. A casa continuava a mesma, minha vó continuava cozinhando à lenha, mesmo com as libras que enviara para a compra de um fogão. Dizia que a comida ficava mais gostosa e suas poções tinham de ser feitas com tudo que é da natureza. Meu irmão aderira à Internet e estava lá sempre que podia, já que o vizinho mais próximo encontrava-se a 4 km. Inclusive minha pressa em retornar a vê-los surgiu de um e-mail enviado a mim por ele com um ritual bastante estranho que falava sobre a magia de invocação aos mortos. O gnosticismo ao qual pertencíamos era muito voltado à natureza, quase como uma religião indígena, mas menos comercial que a wicca e derivados. Tampouco saíamos do padrão de magias, a invocação aos mortos eram feitas pelos mais velhos em tempos de desespero e não da forma descrita ali. No começo pensei em algo encontrado na internet, mas depois percebi todos os elementos utilizáveis, as palavras, aquilo não era um ritual de invocação, era de ressurreição.

Após o jantar fui pro velho quarto que dividíamos e perguntei onde ele tinha encontrado aquilo.

- Rick, não importa onde encontrei, sei que isso tem tudo pra dar certo, podemos trazer nosso avô de volta e aí você vai poder voltar a morar conosco e tudo vai voltar a ser como era.
- Fred, eu sei que você deve estar saudoso e triste pela falta do nosso avô, mas isso é proibido, ninguém ressuscita os mortos, respeitamos o ciclo natural das coisas, todos que nascem um dia têm de morrer, é triste, mas você precisa aceitar isso! Além do mais você não acredita mesmo nessa bobagem de magia. É tudo indução psicológica.

Ele levantou-se, chorando de novo e berrou que eu não entendia, em galês. Nossa avó apareceu na porta, mas o Fred já havia sumido. Resolvi não contar a história para ela, apenas dormi para ir no outro dia comprar umas coisas para casa logo cedo, o Fred conhecia muito bem a floresta e no outro dia apareceria com certeza.

continua...

Eduardo Leite

Thursday, April 27, 2006

Versos de uma madrugada insone (para minha amada)

Você é tão linda...
Eu te amo tanto...
Que você nem sabe o quanto...


Rafael Rodrigues

Sunday, April 23, 2006

Frenético

(Hetfild/Ulrich/Hammett Versão: Thiago Augusto)

Se pudesse voltar aos dias perdidos
Usaria os para voltar aos trilhos?
Voltaria a me aquecer do frio
ou continuaria seguindo meu caminho?

Tenho essa força
para saber aonde ir?
Trocando-a por meus atos
que não deveriam existir?

Poderia voltar aos meus dias perdidos
e usa-los para voltar ao trilhos?
É viver, ou fingir
É Viver, ou fingir

Meu estilo de vida,
trilhará meu estilo de morte
Meu estilo de vida,
trilhará meu estilo de morte

Busco-o, Continuo a busca-lo
a procura sempre prossegue
Frenética, tic tic tac
Frenética, tic tic tac

Me desgastei estando sempre assustado
Um fluxo de medo no peito cravado
do rio que escorria águas preocupadas
do frenético tic tac em vertigem alucinada

Tenho essa força
para saber aonde ir?
Trocando-a por meus atos
que não deveriam existir?

Busco-o, Continuo a busca-lo
a procura sempre prossegue
Frenética, tic tic tac
Frenética, tic tic tac

Meu estilo de vida (No nascer há dor)
trilhará meu estilo de morte (No viver há dor)
Como uma onda gigante (No morrer há dor)
que a jogará n´outro horizonte (Há sempre o ardor)

Thiago Augusto
(23-12-05)

Saturday, April 22, 2006

Como uma coisa puxa a outra

Aqui na cidade está acontecendo a não sei qualgésima Micareta de Feira. Carnaval fora de época, como vocês devem saber.

Os trios fazem a folia em uma das principais avenidas da cidade. Com isso, algumas ruas foram fechadas e o trânsito alterado. Em decorrência disso, de uma gripe querendo me pegar, do frio que tá fazendo (esfriou muito por aqui), fiquei em casa hoje o dia todo.

Não tô com um pingo de vontade de ver os blocos. A violência tá tomando conta da festa. E eu tenho amor à minha vida. Até já curti, não vou mentir. Mas desde o ano passado que não chego nem na rua. Também não fui ver Cássia (foi niver dela anteontem, dia 21!, aí claro que eu fui lá hehe) hoje. Tá complicado de ir na casa dela, justamente porque pra ir pra lá, tem que passar pela tal avenida.

E aí acordei 11 e tanta e fiquei vendo tv o dia todo. E esse post é consequência disso.

Na verdade, eu tinha colocado um dvd, "Uma vida iluminada", com o Elijah Wood, o carinha que fez o Frodo (acho que é esse o nome) em "Senhor dos anéis". O Elijah Wood também participou de "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" e fez o mudo-doentemental-psicopata-assassino em "Sin city".




Pois sim. Tava assistindo de boa, até que chegou um pessoal aqui em casa. Daí tive de parar o dvd pra fazer sala pra um tio e tal. Nisso, fiquei pulando de canal em canal, procurando algo que prestasse.

Depois de ver Bruno de Luca dando uma rapidinha na casa de Latino (atração bizarra do Caldeirão do Hulk) (ops, Huck), coloquei no GNT ou GloboNews, e tava passando um documentário sobre a seleção brasileira de 70. E isso é o ouro.

Rapaz, a seleção de 70 foi A seleção. Mostraram somente os gols, e a trajetória da equipe rumo à conquista do terceiro mundial. Meus amigos, Pelé não é gênio à toa. E aquela seleção com certeza foi uma das duas melhores seleções que tivemos.

Se o time de hoje jogasse contra o de 70, levava uma goleada. E não só por causa de Pelé. Gerson, Rivelino, Tostão, Didi, Jair, Carlos Alberto... caraca, show de bola demais.

O que me deixou assombrado foi ver como o Pelé tratava a pelota. Ele dando um passe é uma coisa de outro mundo. Ele tratava a bola com displiscêcia (será que escrevi certo?) e carinho, ao mesmo tempo. Algo do tipo como a mulher que, pra você conquistar, você tem que mimar e desprezar ao mesmo tempo.

Pelé, além de goleador, foi um exímio assistente. Muitos gols foram feitos depois de ele dar o passe. E que passes. Como se ele pensasse: "Ah, toma aí vai", olhando meio de lado, tocando meio com dezprezo, APARENTEMENTE.

Porque todo seu amor estava ali, em cada um daqueles passes.


Rafael Rodrigues



P.S.: "Uma vida iluminada" é um filmaço. Elijah Wood é Jonathan Safran Foer, um jovem escritor americano que, após a morte de seus avós, resolve ir até à Ucrânia desvendar o passado de seu avô, que foi salvo dos nazistas por uma garota chamado Agustine, ou Augustine, não me recordo o nome exato agora. O filme é baseado no livro "Tudo se ilumina", do jovem escritor americano Jonathan Safran Foer que realmente foi à Ucrânia em busca da mulher que salvou seu avô dos nazistas, mas nada encontrou. Suas anotações da viagem somadas à invenções de sua mente se tornaram o romance, que posteriormente foi transformado em filme. "Tudo se ilumina" é um grande sucesso literário nos EUA e foi publicado no Brasil pela Editora Rocco. Estou com ele aqui pra ler, em breve uma resenha dele sai em algum lugar hehehe

Tuesday, April 18, 2006

Vinte anos, dez minutos

Estava ali há cinco minutos. A porta atrás dele lhe dava a segurança de que precisava naquele momento. Tinha medo de afastar-se dela, mas seria necessário. Não poderia mais adiar aquilo.

Olhou ao redor. Viu que pagara pouco pelo conforto daquele quarto. Limpo e aconchegante. Cama bem arrumada, televisão, frigobar, banheiro. Nem tão bom para passar um mês nem tão ruim para não passar uma semana. Para ele que passaria apenas uma noite, era perfeito.

Aproximou-se da cama, localizada na frente da porta. A jovem estava deitada. Vestia uma blusa vermelha. Bem apertada e decotada, valorizava seus seios. Também uma saia de jeans leve, azul escuro. Nem tão longa nem tão curta. Se ela estivesse de pé, meio palmo de suas coxas ficaria à mostra.

Mas ela estava deitada, apoiada nos cotovelos. Suas pernas, em posição de parto, deixavam transparecer bem mais do que pedaços de coxas.

Ele a admirava, ainda de pé. Era mesmo uma mulher muito bonita. Escuros olhos castanhos, cabelos negros, boca pequena, pele branca, nariz fino e reto. Perfeito. Seus seios lhe bastavam, nem grandes nem pequenos. Médios, duros, ímãs. Suas pernas eram fortes, coxas volumosas. Precisavam assim ser, ou então não poderiam sustentar seus elogiados quadris.

Tão belos que pediu para ela deitar-se de bruços. E depois, ficar de quatro.

Ela obedecia. Não achava estranho. Estava acostumada a fazer aquilo.

Agora estava novamente apoiada nos cotovelos, com as pernas deitadas, dessa vez.

Ao contrário do que imaginara, não estava nervoso. De quatro sobre ela, beijou-a. E foram iniciados os trabalhos.

Sua primeira vez em vinte anos.


Rafael Rodrigues

Monday, April 17, 2006

Sexo, dinheiro e sucesso? Só lendo! - Ulisses Tavares

Você é jovem? Mora no Brasil? Está lendo este artigo numa boa, sem soletrar palavra por palavra? Já leu mais de um livro inteirinho este ano? E, finalmente, entendeu tudo que estava escrito no livro? Respondeu sim a estas perguntinhas?
Ufa! Que bom, parabéns, posso, então, ir direto ao ponto:
Primeiro, você faz parte de uma elite.
Segundo, você está com a faca e o queijo para conquistar tudo que quiser na vida.
Terceiro, você precisa ler mais, muito mais... [Clique para ler o texto na íntegra direto da página do Cronópios]

Saturday, April 15, 2006

Retrato de um Artista 2

Elas vêem doces palavras impressas em livros e pensam quem está por trás delas. Prosseguem até a ultima pagina, contracapa, na procura por qualquer imagem que reconheçam nas palavras daquele autor.

Imaginam em meio a tristes poesias e dedicatórias, “quem foram as musas, afinal?”. Sem saber que tudo não passa de um grande palco ficcional. Que entre o autor e a palavra existe respeito. Fazendo surgir desejos e histórias da imaginação.
Por um instante, se elas vislumbram o artista, tudo começa com comprimentos, seguidos de aplausos pela poética, e um dialogo simples. Onde ela já se faz apaixonada pelos versos, e ele cativado por aquela paixão.
Mesmo que a noite se despeça sem beijo algum, ela vai para casa, com uma dedicatória e um falso amor que ultrapassa as palavras.

Segue o artista sua vida assim, porém volta a encontrá-la. E do simples se torna uma constante e, não mais que de repente, de suas palavras a ela surge uma inspiração.
E novamente a garota sorri, o pequeno artista lhe deixou versos, que talvez lhe trouxesse novas mulheres.

Elas começam se apaixonando pelas palavras e sem perceber acreditam que se apaixonaram pelo autor. Talvez o ego do artista, mesmo sabendo da ilusão, semeie a paixão que não deveria existir.
Mas, ela chora ao ler seu poema mais contundente. Sem querer ele a toca, e finalmente se beijam.

Passam-se os meses e o autor prossegue em sua poesia, onde surgem novos versos sobre ela, verídicos. Já ela, lendo os textos de outro poeta, chora. E o novo autor pode prever sua sina.
Ela se apaixonará por suas palavras e pelas formas belas. Na arte que ninguém possui. Ele, talvez recluso em sua majestade egoísta, fará nascer em si mesmo um amor que sabe que ela não possui. Pois sem sua poética o amor seria escasso.

E assim eis o retrato de um artista.
Thiago Augusto
Reescrito em (15/04/06)

Friday, April 14, 2006

Bono Vox tem a palavra

“Eu penso que, no final das contas, o grupo é totalmente rebelde por causa de nossa postura contra aquilo que as pessoas entendem ser rebeldia. Aquela coisa toda de estrelas do rock jogando seus carros dentro da piscina – isso não é rebeldia... Rebeldia começa em casa, em seu coração, em sua recusa de comprometer suas crenças e seus valores...”.

(Bono Vox, 1983)

Tuesday, April 11, 2006

Dar um tempo - Fabrício Carpinejar

* Crônica do escritor gaúcho Fabrício Carpinejar, que recentemente publicou o livro de crônicas "O amor esquece de começar", sua estréia no gênero.


Não conheço algo mais irritante do que dar um tempo, para quem pede e para quem recebe. O casal lembra um amontoado de papéis colados. Papéis presos. Tentar desdobrar uma carta molhada é difícil. Ela rasga nos vincos. Tentar sair de um passado sem arranhar é tão difícil quanto. Vai rasgar de qualquer jeito, porque envolve expectativa e uma boa dose de suspense. Os pratos vão quebrar, haverá choro, dor de cotovelo, ciúme, inveja, ódio. É natural explodir. Não é possível arrumar a gravata ou pintar o rosto quando se briga. Não se fica bonito, o rosto incha com ou sem lágrimas. Dar um tempo é se reprimir, supor que se sai e se entra em uma vida com indiferença, sem levar ou deixar algo. Dar um tempo é uma invenção fácil para não sofrer. Mas dar um tempo faz sofrer pois não se diz a verdade.

Dar um tempo é igual a praguejar "desapareça da minha frente". É despejar, escorraçar, dispensar. Não há delicadeza. Aspira ao cinismo. É um jeito educado de faltar com a educação. Dar um tempo não deveria existir porque não se deu a eternidade antes. Quando se dá um tempo é que não há mais tempo para dar, já se gastou o tempo com a possibilidade de um novo romance. Só se dá o tempo para avisar que o tempo acabou. E amor não é consulta, não é terapia, para se controlar o tempo. Quem conta beijos e olha o relógio insistentemente não estava vivo para dar tempo. Deveria dar distância, tempo não. Tempo se consome, se acaba, não é mercadoria, não é corpo. Tempo se esgota, como um pássaro lambe as asas e bebe o ar que sobrou de seu vôo. Qualquer um odeia eufemismo, compaixão, piedade tola. Odeia ser enganado com sinônimos e atenuantes. Odeia ser abafado, sonegado, traído por um termo. Que seja a mais dura palavra, nunca dar um tempo. Dar um tempo é uma ilusão que não será promovida a esperança. Dar um tempo é tirar o tempo. Dar um tempo é fingido. Melhor a clareza do que os modos. Dar um tempo é covardia, para quem não tem coragem de se despedir. Dar um tempo é um tchau que não teve a convicção de um adeus. Dar um tempo não significa nada e é justamente o nada que dói.

Resumir a relação a um ato mecânico dói. Todos dão um tempo e ninguém pretende ser igual a todos nessa hora. Espera-se algo que escape do lugar-comum. Uma frase honesta, autêntica, sublime, ainda que triste. Não se pode dar um tempo, não existe mais coincidência de tempos entre os dois. Dar um tempo é roubar o tempo que foi. Convencionou-se como forma de sair da relação limpo e de banho lavado, sem sinais de violência. Ora, não há maior violência do que dar o tempo. É mandar matar e acreditar que não se sujou as mãos. É compatível em maldade com "quero continuar sendo teu amigo". O que se adia não será cumprido depois.

Saturday, April 08, 2006

Walk On - A jornada espiritual do U2


Meus pais são católicos e eu fui criado como tal. O caso é que com o passar dos anos, fui me distanciando do catolicismo e, a bem da verdade, de qualquer religião. O que não significa dizer que não acredito em Deus.

Não. Eu não vou aqui procurar razões para se seguir ou para não seguir uma religião. Esse é um assunto que não deve ser discutido. Principalmente em uma roda de amigos bebendo cerveja. Nessas ocasiões é quase certo alguém se exaltar, e a conversa pode acabar em briga feia, que também é quase certa de ser esquecida duas cervejas depois, já emendando nova conversa, tendo como pauta um outro assunto. Futebol, geralmente. E outra briga feia pode aparecer. No fim das brigas e reconciliações, quem sai ganhando é sempre o dono do bar. E digo isso por experiência própria.

(Não que eu tenha um bar).

Mas enfim. Fui escrevendo e perdi o rumo do texto. Retomo-o agora.

Como eu dizia, me distanciei de qualquer religião. Hoje sei apenas que creio em Deus, e isso me basta. É claro que questionamentos sobre religião surgem, de vez em quando. Ainda mais quando se vive em um mundo no qual a fé é desculpa para atentados terroristas, guerras e assassinatos premeditados.

Quando se vive em um mundo assim, o menor problema que um homem pode ter é qual religião seguir. Aquele que tiver coragem para admitir, pode não seguir nenhuma, e seguir seu caminho fazendo sua parte: sendo justo com tudo e com todos, e cobrando de tudo e todos a mesma justiça. Justiça justa, não aquela que é feita com as próprias mãos.

A hipocrisia que impera entre os nossos cidadãos do mundo não me inspira qualquer sentimento de piedade para com aqueles que não têm coragem de estufar o peito e se dizer contra aS IgrejaS – é bom destacar o plural, pois estou falando do cristianismo e todas as suas ramificações; não posso me restringir apenas ao catolicismo, quando sei que outras vertentes cristãs possuem as mesmas incongruências. Prefiro ter a amizade de um ateu correto e íntegro a ser amigo de um cristão hipócrita.

Essas reflexões que acabo despejando aqui em forma de texto são resultado de anos de indignação com certas posturas daS IgrejaS, como: ser contra o uso de preservativos e sexo antes do casamento. Só para citar dois básicos exemplos. Se eu quisesse, poderia citar vários outros, mas tenho preguiça de fazer isso agora e não quero fazer desse projeto de crônica um muro de lamentações.

Meu contato e minhas descobertas nas áreas da música e da literatura foram fundamentais para que eu chegasse a ter tais posicionamentos. Ouvindo e lendo bandas e escritores com diferentes pontos de vista e bons argumentos, pude traçar um caminho para tomar muitas decisões, que não são vitalícias. Afinal, qual é a graça de não poder mudar de opinião? Qual a graça de ser o mesmo cabeça dura de sempre?

Nos últimos dias tenho pensado bastante sobre o assunto religião, e isso porque estou na metade da leitura do livro “Walk On – A jornada espiritual do U2”, do irlandês Steve Stockman, ministro presbiteriano na Irlanda, e que foi publicado no Brasil recentemente pela W4 Editora.

Mais que uma análise das mensagens religiosas e políticas por trás dos álbuns do U2, o livro força o leitor questionar a religião dos que a pregam e a sua própria postura religiosa. O que o torna uma obra universal, pois apesar de estar ligada às canções da banda irlandesa, ela faz reflexões acerca da influência que a religião exerce sobre as pessoas em todo o mundo, e NO mundo.

De brinde, ainda conta detalhes da história do U2.

Livro fundamental para os fãs da banda, altamente indicado para quem gosta de literatura e, de quebra, uma boa base para aqueles que questionam o posicionamento cristão.

Rafael Rodrigues

Friday, April 07, 2006

Ju

Esses finos fios levemente ondulados que estão em minhas mãos. Um dos meus passatempos preferidos, conduzir minha mão através de teus cabelos, enquanto adormeces ao meu lado.

Ontem tingiu os cabelos. Agora é forte, cobre, dando um novo frescor ao seu rosto. Disse ela que queria ficar diferente, mais deslumbrante, talvez. Mas sou extremamente suspeito para falar qualquer palavra.

Essa história se repete quase todas as vezes. Algum filme que vemos sem ela chegar até o final, adormecendo pelo meu acalanto protetor. Sozinho vejo-o até o final, sabendo que quando ela despertar, sempre na hora da janta, ela pedirá detalhes das cenas finais.

Após o filme eu desligo a tv, e fico observando-a em sua ritmada respiração, de olhos fechados, como um anjo, parecendo uma de suas fotos de infância.

Nessa visão perfeita de meu paraíso, me lembra da mãe a quem tanto amei um dia. Dormindo na mesma inconstância, sussurrando palavras indecifráveis, se mexendo tempestuosa sob a cama... Para se acalmar de novo, tendo um sonho bom.

Certo que poderia eu dizer dezenas de frases beirando o comum. É fato consumado que ela cresceu. O que me traz apreço por ter lhe dado o melhor alimento todos esses anos, dedicando o melhor de mim.

Porém, assim como se visualizasse uma ampulheta imaginária que escorre gota a gota, tento conter as antecipadas lágrimas do dia em que ela me dará “adeus”. Me transformando no espectador, na estação, vendo o trem se afastar até sair de vista. Enquanto minha mão que não para de acenar, tenta conter as lágrimas que escorrem molhando o chão.

Ela é minha dádiva do céu, o melhor de mim. Antecipadamente sei que cairá em infortúnios que não poderei concertar (e nem consertar).

Guardo a fé no peito, dia a dia, de que serei muito mais do que um simples laço comum. Mas sim um porto, que seja muito mais que um farol para os afogados. Que seja a compreensão e o abrigo quando necessário, e tenha a força de um general quando for preciso ser severo.

Naquele dia, ela despertou bem mais cedo, quando o sol ainda brilhava pela janela e o jantar não estava na mesa. Eu lia o jornal quando ela passou por mim, coçando os olhos. Voltando da cozinha, bebia o suco que tinha feito aquela manhã. A olhei com expectativa, esperando sua pergunta sobre o final do filme, mas ela voltou para a sala, e pude ouvir o som da tv.

Era estranho pensar no tempo. Que ali, naquele mesmo apartamento, foi onde ensinei o meu olhar sobre certo e errado, onde sorri com seu primeiro andar e cantei doces canções para cobrir seus sonhos. Era estranho perceber que meu bebê já não tinha mais esse nome e em pouco tempo seria dela, só dela. Indubitavelmente livre.


Thiago Augusto
(27-03-06)

Wednesday, April 05, 2006

World Wide Suicide

Consegui, finalmente, a letra do novo single do Pearl Jam e estou disponibilizando pros 4 ou 5 que lêem aqui vez em quando rs.

Ainda estou tentando entender se eles estão criticando a política ofensiva, armamentista e belico do Bush. Leiam e tirem suas conclusões.

Abraços.



WORLDWIDE SUICIDE
(lyrics: Vedder, music: Gossard)

I felt the earth on Monday. It moved beneath my feet.
In the form of a morning paper. Laid out for me to see.

Saw his face in a corner picture. I recognized the name.
Could not stop staring at the. Face I'd never see again.

It's a shame to awake in a world of pain
What does it mean when a war has taken over

It's the same everyday in a hell manmade
What can be saved, and who will be left to hold her?

The whole world...World over.
It's a worldwide suicide.

Medals on a wooden mantle. Next to a handsome face.
That the president took for granted.
Writing checks that others pay.

And in all the madness. Thought becomes numb and naive.
So much to talk about. Nothing for to say.

It's the same everyday and the wave won't break
Tell you to pray, while the devils on their shoulder

Laying claim to the take that our soldiers save
Does not equate, and the truth's already out there

The whole world,... World over.
It's a worldwide suicide.

The whole world,... World over.
It's a worldwide suicide.

Looking in the eyes of the fallen
You got to know there's another, another, another, another
Another way

It's a shame to awake in a world of pain
What does it mean when a war has taken over


It's the same everyday and the wave won't break
Tell you to pray, while the devils on their shoulder

The whole world,... World over.
It's a worldwide suicide.

The whole world,... World over.
It's a worldwide suicide.

Tradução

Suicídio Em Massa (ou Suicídio Em Escala Mundial)
Composição: Vedder e Gossard

Eu senti a terra segunda-feira. E la se movia sob os meus pés
Na forma de um jornal. Exposto para que eu veja

Vi seu rosto na moldura. Eu reconheci o nome
Não consegui tirar os olhos do rosto que jamais veria novamente.

É uma vergonha acordar em um mundo de dor
Qual a explicação para quando uma guerra assume o comando?

Todo dia é a mesma coisa, no inferno criado pelo homem
O que pode ser salvo e quem ficará com sua custódia

O mundo inteiro.... mundo acabado
É um suicídio em massa.

Medalhas em um sobretudo de madeira, próximas a um belo rosto,
Concedidas pelo presidente
Que faz cheques pagos por outras pessoas.

E nessa loucura total, a imaginação torna-se dormente e ingênua
Muita conversa e nada a declarar.

É a mesma coisa todo dia e a onda não vai quebrar
Ordenam que você reze enquanto o demônio está no seu ombro

Exigir direito sobre a receita que nossos soldados resgataram
Não corresponde à verdade que já está aparecendo.

O mundo inteiro.... mundo acabado
É um suicídio em massa.

O mundo inteiro.... mundo acabado
É um suicídio em massa.

Olhando nos olhos dos que perderam a batalha
Você tem que ver que existe um outro, outro, outro, outro,
Outro jeito.

É uma vergonha acordar em um mundo de dor
Qual a explicação para quando uma guerra assume o comando?

É a mesma coisa todo dia e a onda não vai quebrar
Ordenam que você reze enquanto o demônio está no seu ombro

O mundo inteiro.... mundo acabado
É um suicídio em massa.

O mundo inteiro.... mundo acabado
É um suicídio em massa.


Retirado do site do fãclube brasileiro do Pearl Jam Restless Souls.



Eduardo Leite

Monday, April 03, 2006

Um longo lamento

É bem provável que esta seja a primeira resenha do livro “Um longo lamento” (Rocco, 192 págs.) publicada em algum site brasileiro.*


Não escrevo isto para impressionar vocês ou valorizar esta resenha. Foi apenas o que constatei com uma pesquisa num sistema de buscas. Ok, ok, o Google. E não estou “ganhando um por fora”. Bem que gostaria.

Mas enfim. “Um longo lamento” é o primeiro romance da escritora americana Amanda Stern, e foi publicado aqui no Brasil através do selo Safra XXI, da editora Rocco, que se destina a lançar autores jovens e inéditos, nacionais ou estrangeiros.

Talvez esse tenha sido o motivo de não terem dado muita atenção ao livro. O fato de ser uma escritora inédita, sendo lançada por um novo selo – o Safra XXI não tem nem dois anos de existência –, pode ser que isso não tenha seduzido nem a crítica nem o público. Tentarei corrigir essa injustiça fazendo minha parte: divulgando este belíssimo livro.

“Um longo lamento” conta a história de uma garota e um rapaz chamado apenas de “o Alcoólico”, que se conhecem na faculdade, começam a namorar e viajam pelos Estados Unidos rumo a Nova Iorque.

Ela é uma estudante de cinema que se limitava a viver do Alcoólico – que é mesmo um alcoólatra, além de ser viciado em outras drogas. A protagonista-sem-nome se torna viciada por osmose. Mas o que mais lhe prejudica é o vício que tem pelo Alcoólico.

O plano era simples: namorarem, casarem e serem felizes para sempre. O Alcoólico é um cantor e guitarrista de rock que é quase uma lenda na faculdade. Seus shows têm uma espécie de mística, sempre acontece algo de extraordinário em suas apresentações. Mesmo que isso signifique contar a “sua obscura história pessoal ao som de ‘Sympathy for the Devil’”.

Quem narra o romance é a jovem e, durante a viagem, aos poucos ela percebe que nem tudo é o que parece. “A pele dele parece cerâmica, lisa, como vidro moldado por sopro... No lugar dos olhos, tem duas luas da cor do céu... Meu estômago embrulha, meu peito se comprime. Estou completamente obcecada. Uma paixão arrebatadora se forma e se instala. Ele me deixa atordoada. Esse é o Alcoólico.”, este é o relato de quando conheceu o Alcoólico. Anos depois, ela diria: “Pela primeira vez eu falo: chamo-o de bêbado. E pela primeira vez, ele não discorda... Digo a ele que estou cansada, sugada. Que não consigo mais fingir. Nada restou para mim... A bebida me exauriu, esvaziou-me de mim mesma.”

O livro faz referências a músicas e bandas de rock, e a narrativa tem mesmo um ritmo, uma melodia melancólica de uma balada roqueira. Há também no romance momentos em que parágrafos inteiros poderiam ser considerados como poemas em prosa. São os momentos mais tocantes do livro.

“Um longo lamento” é a história de dois jovens que, perdidos, se encontram. E juntos, se perdem ainda mais. Talvez seja o retrato de grande parcela da juventude dos nossos dias. É também uma história de amor. Bela e triste, como poucas já narradas em páginas brancas de um livro.

P.S.: Ao terminar a leitura de "Um longo lamento" fiquei intrigado com o fato de a narrativa ser tão "cheia de sentimento" - não encontrei expressão melhor - que resolvi enviar um email à escritora. Na terceira mensagem, perguntei-lhe se havia algo de real no romance, e, se houvesse, o quê seria. Amanda me respondeu dizendo que seu livro é uma "autobiografia ficcionada". Ela realmente se envolveu com um alcoólico, frequentou um psicólogo (fato que não citei na resenha, para não contar demais sobre o romance), entre outras coisas. E mais não digo. Encerro este adendo com uma frase da escritora Amanda Stern sobre o alcoólico: "And I did love him."

Um longo lamento
Editora Rocco
Amanda Stern
Tradução de Ana Raquel Maia
192 páginas


Rafael Rodrigues
*Resenha publicada originalmente no blog Paralelos