Ju
Esses finos fios levemente ondulados que estão em minhas mãos. Um dos meus passatempos preferidos, conduzir minha mão através de teus cabelos, enquanto adormeces ao meu lado.
Ontem tingiu os cabelos. Agora é forte, cobre, dando um novo frescor ao seu rosto. Disse ela que queria ficar diferente, mais deslumbrante, talvez. Mas sou extremamente suspeito para falar qualquer palavra.
Essa história se repete quase todas as vezes. Algum filme que vemos sem ela chegar até o final, adormecendo pelo meu acalanto protetor. Sozinho vejo-o até o final, sabendo que quando ela despertar, sempre na hora da janta, ela pedirá detalhes das cenas finais.
Após o filme eu desligo a tv, e fico observando-a em sua ritmada respiração, de olhos fechados, como um anjo, parecendo uma de suas fotos de infância.
Nessa visão perfeita de meu paraíso, me lembra da mãe a quem tanto amei um dia. Dormindo na mesma inconstância, sussurrando palavras indecifráveis, se mexendo tempestuosa sob a cama... Para se acalmar de novo, tendo um sonho bom.
Certo que poderia eu dizer dezenas de frases beirando o comum. É fato consumado que ela cresceu. O que me traz apreço por ter lhe dado o melhor alimento todos esses anos, dedicando o melhor de mim.
Porém, assim como se visualizasse uma ampulheta imaginária que escorre gota a gota, tento conter as antecipadas lágrimas do dia em que ela me dará “adeus”. Me transformando no espectador, na estação, vendo o trem se afastar até sair de vista. Enquanto minha mão que não para de acenar, tenta conter as lágrimas que escorrem molhando o chão.
Ela é minha dádiva do céu, o melhor de mim. Antecipadamente sei que cairá em infortúnios que não poderei concertar (e nem consertar).
Guardo a fé no peito, dia a dia, de que serei muito mais do que um simples laço comum. Mas sim um porto, que seja muito mais que um farol para os afogados. Que seja a compreensão e o abrigo quando necessário, e tenha a força de um general quando for preciso ser severo.
Naquele dia, ela despertou bem mais cedo, quando o sol ainda brilhava pela janela e o jantar não estava na mesa. Eu lia o jornal quando ela passou por mim, coçando os olhos. Voltando da cozinha, bebia o suco que tinha feito aquela manhã. A olhei com expectativa, esperando sua pergunta sobre o final do filme, mas ela voltou para a sala, e pude ouvir o som da tv.
Era estranho pensar no tempo. Que ali, naquele mesmo apartamento, foi onde ensinei o meu olhar sobre certo e errado, onde sorri com seu primeiro andar e cantei doces canções para cobrir seus sonhos. Era estranho perceber que meu bebê já não tinha mais esse nome e em pouco tempo seria dela, só dela. Indubitavelmente livre.
Ontem tingiu os cabelos. Agora é forte, cobre, dando um novo frescor ao seu rosto. Disse ela que queria ficar diferente, mais deslumbrante, talvez. Mas sou extremamente suspeito para falar qualquer palavra.
Essa história se repete quase todas as vezes. Algum filme que vemos sem ela chegar até o final, adormecendo pelo meu acalanto protetor. Sozinho vejo-o até o final, sabendo que quando ela despertar, sempre na hora da janta, ela pedirá detalhes das cenas finais.
Após o filme eu desligo a tv, e fico observando-a em sua ritmada respiração, de olhos fechados, como um anjo, parecendo uma de suas fotos de infância.
Nessa visão perfeita de meu paraíso, me lembra da mãe a quem tanto amei um dia. Dormindo na mesma inconstância, sussurrando palavras indecifráveis, se mexendo tempestuosa sob a cama... Para se acalmar de novo, tendo um sonho bom.
Certo que poderia eu dizer dezenas de frases beirando o comum. É fato consumado que ela cresceu. O que me traz apreço por ter lhe dado o melhor alimento todos esses anos, dedicando o melhor de mim.
Porém, assim como se visualizasse uma ampulheta imaginária que escorre gota a gota, tento conter as antecipadas lágrimas do dia em que ela me dará “adeus”. Me transformando no espectador, na estação, vendo o trem se afastar até sair de vista. Enquanto minha mão que não para de acenar, tenta conter as lágrimas que escorrem molhando o chão.
Ela é minha dádiva do céu, o melhor de mim. Antecipadamente sei que cairá em infortúnios que não poderei concertar (e nem consertar).
Guardo a fé no peito, dia a dia, de que serei muito mais do que um simples laço comum. Mas sim um porto, que seja muito mais que um farol para os afogados. Que seja a compreensão e o abrigo quando necessário, e tenha a força de um general quando for preciso ser severo.
Naquele dia, ela despertou bem mais cedo, quando o sol ainda brilhava pela janela e o jantar não estava na mesa. Eu lia o jornal quando ela passou por mim, coçando os olhos. Voltando da cozinha, bebia o suco que tinha feito aquela manhã. A olhei com expectativa, esperando sua pergunta sobre o final do filme, mas ela voltou para a sala, e pude ouvir o som da tv.
Era estranho pensar no tempo. Que ali, naquele mesmo apartamento, foi onde ensinei o meu olhar sobre certo e errado, onde sorri com seu primeiro andar e cantei doces canções para cobrir seus sonhos. Era estranho perceber que meu bebê já não tinha mais esse nome e em pouco tempo seria dela, só dela. Indubitavelmente livre.
Thiago Augusto
(27-03-06)
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