Wednesday, October 18, 2006

Pulsos

Não era afiada. Mas sua ponta fora o bastante para fazer sangue escorrer. Meus braços quase vermelhos ardiam nesse momento. Sempre gostei dessa coloração.

Minha cabeça latejava como se meus sentidos tivessem se duplicado. Achei que tinha perdido meu toque e minha humanidade. Mas meu sangue ainda estava lá.

Não foi um suicídio. Eu estava vivo até demais. Mas conforme fui passando cada etapa de minha vida, fui me prendendo em espinhos, perdendo minha humanidade.

Perdi primeiro a necessidade de atrair as pessoas. Depois se foi minha compaixão. E por fim achei que perdi o toque de minhas palavras. Não conseguia mas abrir diálogo com ninguém. Perdi minha arma sedutora. As pessoas paravam para conversar comigo e eu as despachava num piscar de olhos. Minhas palavras gaguejavam mesmo soando articuladas.

Quando lembrava de antigamente, sempre o via com luzes. Meu presente tinha perdido suas pontes. Eu visualizava só ilhas solitárias de pessoas. Me faltava as linhas que as ligavam.

Desesperado procurei qualquer forma que pudesse me mostrar que ainda havia vida em mim. E aprofundei em minhas carnes.

Sentindo meu corpo arder naquele dia, meu coração disparar, percebi que ainda havia uma essência em mim. Provei meu próprio sangue e percebi como odiava seu gosto.

Sentei me e comecei a escrever essas palavras, o papel se manchava com meu próprio veneno.

Thiago Augusto

7 de Setembro de 2005

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