Wednesday, November 08, 2006

Talk to the devil - Parte II

Um pensamento lhe passou pela cabeça e um frio percorreu sua espinha. Quando tentou varrer essa idéia para longe, o homem olhou em sua direção com um sorriso irônico no rosto. Com um susto, ele recolheu-se mais ainda atrás do mármore, mas já era tarde, havia sido descoberto. Fechou seus olhos com força como que querendo mandar aquela figura para longe de si. Abriu-os, novamente e puft! Ele havia sumido.

Só a cadeira permanecia. Esfregou os olhos e tentou conferir rapidamente, mas foi pego de surpresa.

“Buh!”, gritou o homem atrás de Sérgio, fazendo quase pular por cima do mármore.

“Tá tentando me matar feladaputa? O que cê quer comigo, veado?”.

“Peguei você!”, dizia em meio a muita gargalhada.

“Peguei você de jeito! Como me divirto!”.

O homem, assustado, tentava recompor-se e se levantou pronto a ir embora enquanto o pinel acabava-se de rir. Quando deu as costas para o louco, surpresa! Ele estava, de novo, sentado à cadeira, balançando o dedo em negativa.

“No, no, no! Aonde você pensa que vai?”, falou enquanto levantava-se em direção a Sérgio.

“Sente-se aí para conversarmos”, empurrou-o numa cadeira, onde caiu sentado e indefeso.

“Conversar o quê? Nem te conheço! Olha, sou casado. Não gosto de veadagem”, mostrando a aliança em sua trêmula mão.

“Ah! Essa vadia tá morta e bem acomodada no mármore do inferno. Falando em mármore, Dante tinha uma visão muito limitada do inferno, apesar de ser divertido e criativa a forma como escreveu o livro. Mas voltando à sua ex-puta, digo, esposa, ela tá realizando seu sonho de vida na morte. Trepa todos os dias, aprendeu posições novas e tá se acabando com os dotados. Você precisava ver!” falava tudo em meio a risinhos sarcásticos.

“O quê?!” gritou com os olhos imersos em ódio.

“Ah! Desculpe, Sérgio. Esqueci que você é corno manso, saudoso. Mas brincadeiras à parte, vim responder suas perguntas.” cruzou suas pernas e lançou-lhe um olhar sério.

“Como sabe meu nome?” parou, com os olhos esbugalhados balbuciou algo. Desistiu e tomou fôlego.

“Seria muito clichê se eu contasse, acho que deixei bem na cara, né? Você é um idiota bebum e não o contrário, não vou subestimar sua inteligência. Vamos às perguntas, apesar de saber quais são, vamos estabelecer um diálogo.” e acendeu um cigarro.

Sérgio não conseguia conceber que diabos estava acontecendo, mas não teve tempo de pensar em perguntar algo, o homem adiantou-se.

“Você queria respostas de deus. Eu, particularmente, não acredito nele, acho ser uma invenção de vocês. Mas resolvi vir responder seus conflitos mais dolorosos.”, e ensaiou uma posição de drama enquanto proferia a revelação.

“Você tem potencial, Sérgio! Entende o que eu digo? Não é o que um professor fala pra um aluno que paga seu salário. Tou falando isso de verdade.”

“A vaca da tua falecida te fazia de cachorrinho. Cê pagava as contas enquanto ela trepava com o carteiro, com o padeiro, com o leiteiro, com o vizinho. Pagava viagens pra ela trepar com o recepcionista do hotel, segurança, camareira. Ela te colocou numa coleira e vendas nos olhos. Te fez de bichinho de estimação, cordeirinho, boi manso. E aí ela perdeu o encanto porque você é fácil. Um babaca!” tragando o cigarro.

“Você tinha planos, sonhos, ambições. Era implacável, esforçado. Uma pena ter se perdido por causa de uma boceta.” joga fora o cigarro.

Sérgio não conseguia responder, apenas ouvia atentamente a cada palavra. Tentando dar algum sentido a tudo. Por que ele estaria tão preocupado com seu futuro como advogado? Até fazia sentido o que ele falava, mas por que se preocupar? O que o diabo tinha a ver com isso?

“Sabe o que mais me fascina no Direito?” perguntou enquanto levantava-se e dançava como que sonhando com o que falava.

“A verdade não importa. Simplesmente que usa as informações da melhor forma para convencer os outros de seu ponto de vista. Tudo é relativo. Seria Einstein um advogado?” risos.

“Você era um escroto, Sérgio. Conseguia colocar no bolso todos os seus colegas de curso. Por isso era odiado e amado por diferentes professores. Um ilusionista, malabarista. Você tinha futuro. E eu iria te usar para mim, mas agora tudo voltará aos eixos e meus planos vão continuar.” falava parado em sua frente, com os olhos em chamas o encarando, vomitando as palavras.

A revelação veio como um soco. Teria ele matado sua mulher? O pensamento não se desfazia e começava a se desesperar com a possibilidade. O que podia fazer contra o demônio? Estava, por demais, confuso.

Continua...

Eduardo Leite

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