Monday, February 27, 2006

Neurose Coletiva

Queria ter escrito antes sobre o lamentável tumulto ocorrido em Gaza, mas os deveres de um estudante medíocre desempregado para sobreviver numa cidade de 13º mundo(note o 13, número de azar) me impediu de fazê-lo antes.

Estudando Psicologia do Desenvolvimento I, matéria que se presta a nos inserir no mundo infantil e fazer reviver esta experiência através do ponto de vista das mesmas, vemos o quão se mostra importante as ilusões, o quão saudável pode ser o mundo das histórias, de presentes do Papai Noel, da Fada do Dente e etc para a formação de uma mente criativa, sonhadora e fértil. O mundo dos duendes, dos desenhos, elfos, e super-heróis inculcam valores, idéias, identificações e sonhos que, ao serem retirados, a posteriori, serão substituídos por sonhos concretos, possíveis(mesmo que distantes), empenho, criatividade para burlar problemas; além de cultivar a capacidade de sonhar, almejar algo. Desejar.

O que acontece então quando essas fantasias são levadas a sério e mantidas até a idade adulta?

Acertou quem chutou nos fanáticos religiosos. Sejam eles católicos, evangélicos, judeus, espíritas(que por sinal inundam as novelas globais com mundos cor-de-rosa) e principalmente os muçulmanos que se têm demonstrado como a espinha na carne da humanidade, substituindo os nazistas.

Considero, junto com uma infinidade de agnósticos e ateus, a religião em geral como uma tentativa preguiçosa e frustrada de explicar o mundo. Quando alguém se julga incapaz e covarde o suficiente para se perguntar sobre as grandes questões universais e tentar estudar o mínimo para entender o que até agora conquistamos em resposta para solucionar tais questões, então, busca na simplicidade de alguma religião tais soluções. É claro que se torna muito mais simples crer que o deus judaico-cristão fez um bolo de barro, modelou e soprou nas narinas que entender o princípio das primeiras proteínas que ao se agruparem, começaram a dividir-se e constituindo um organismo que, de uma mutação genética a outra, alguns milhões de anos mais tarde resultou no homem, um ser capaz de construir cultura, passar idéias abstratas e dominar outros seres(inclusive homens) para servi-lo. Um ser com milhares de provas biológicas de sua ancestralidade animal, os cerca de 99% de semelhança com o chimpanzé, o cóccix que é a cauda vestigial localizada no final da coluna vertebral, além do apêndice e passaria este artigo inteiro citando exemplos. Mas a quem quero convencer? Não se discute religião, não é?

Os homens, carentes de uma resposta, de uma explicação para os fenômenos da natureza, jogaram para os deuses as respostas de suas primeiras tentativas de compreender o mundo, portanto não é nada precipitado ou não fundamentado concluir que as religiões pertencem a uma época distante onde a ciência era pobre e as conclusões tinham de ser as mais óbvias possíveis e serviam de instrumento de dominações sobre os mais fracos e desavisados.

Ainda hoje, alguns povos, de certa forma atrasados, mantém a ferro e fogo(literalmente falando) suas tradições e leis não só em sua porção de terra, mas sobre a Terra inteira. Fazendo jihads, enviando seus homens vestidos com bombas destruírem locais cheios de civis que podem até ter sido contra a guerra no Iraque, causando medo e mal-estar em toda a face da terra onde a maioria não é muçulmana.

Por causa de caricaturas publicadas em um jornal na Dinamarca, a bandeira desta passou a ser pisada na Cisjordânia e mais tarde as embaixadas européias passaram a ser perseguidas por seu apoio à liberdade de imprensa.

“Sim, nós podemos caricaturar Deus...” foi manchete num jornal francês que defendia a liberdade de imprensa. Nós podemos caricaturar deus, escrever livros sobre ele, criticá-lo, falar bem dele, filosofar sobre suas concubinas no céu ou sua natureza hermafrodita, doa a quem doer porque a liberdade assim nos garante, mesmo que ameaçada com ferro e fogo.

A mentalidade dos fanáticos religiosos do oriente médio parece ter alcançado o seu objetivo, colocar todas as pessoas do mundo contra sua jihad e contra sua população em geral, sem distinguir se são civis moderados ou homens-bomba, simplesmente causando aversão desmedida e desconfiança. O que já acontece com 10 em cada 10 pessoas conscientes que vêem na televisão missionários que tentam penetrar na cultura indígena interferindo com sua moral cristã e suas doenças modernas.

É hora de amadurecimento, crescimento e cura dessa neurose coletiva que assola o oriente médio e América em geral. Não precisamos de mais deuses e fantasias, precisamos de livros, educação, comida, respeito, oportunidades, alianças e não guerras em nome de entidades inventadas no inconsciente coletivo. Que bom que deus não existe, ou melhor dizendo, que bom que ele não sou eu.

Eduardo Leite

Sunday, February 26, 2006

Geografia

Acho que o motivo de ser do texto que escrevo nesse momento é sentimento de inferiorização e estou tomando o segundo método de resolução deste problema interno, o primeiro seria a negação e o terceiro a autopiedade; neste momento achei por bem exorcizar meus demônios no teclado.

Nasci em um país injusto, não um pouco injusto, bastante injusto e que, com certeza todos que têm o mínimo de curiosidade e paciência comprar um jornal e realmente ler conhecem de cor e salteado as freqüêntes notícias sobre o problema da exploração do menor, a fome, a seca, e o problema base para a estagnação de todos nessa situação deplorável que inclusive trata-se de um dado até um pouco recente: o número cada vez maior de analfabetos funcionais.

Analfabeto funcional é todo aquele que sabe escrever seu nome sim e até um bilhete, mas que não é capaz de compreender um texto que lê, mesmo que o cite em voz alta e com certa dificuldade. Isso é bem comum, tanto quanto o número de pessoas que ouvem e não entendem. Nada mais fácil que manipular pessoas ignorantes.

Minha região é bem conhecida por sua fama em abrigar pessoas ignorantes, cabras-da-peste que sempre andam com uma peixeira no bolso para resolver qualquer problema, pessoas que são privadas da educação eficaz(assim como a maioria dos brasileiros) que seria a que encoraja a autonomia.

Surpreendo-me por encontrar rodas onde discutem-se questões já maçantes e antigas na época dos grandes filósofos gregos como Sócrates e Platão, questões que poderiam ser entendidas à luz de simples obras escritas e publicadas em qualquer biblioteca pública. Mas parece que ser conhecido como intelectual ou um estudioso(entenda-se esta palavra simplesmente como alguém que estuda algo) como algo marginalizado, ruim, degradante, cômico até. Estamos muito acostumados com o que nossos veículos de entretenimento pregam com sendo “legal”, modelos com muita forma e nenhum conteúdo em todas as áreas concebíveis. É quase inconcebível encontrar pessoas que se dão o trabalho de discutir com adeptos do “Design Inteligente”(criacionismo) em prejuízo da Evolução das Espécies , os dados estão aí em qualquer livro de 5ª série, que aliás estão querendo que sejam retirados tais conteúdos dos mesmos nos EUA.

Essa falta de informação, de medo do ridículo é que proporcionam certo fenômeno observado por minha pessoa em minha cidade. Não tão difícil de entender, mas revoltante por demais para se aceitar, apenas constructos de uma sociedade insipiente.

Existe essa cultura, no Brasil, de que os habitantes dos grandes pólos do Centro-sul, Sudeste e Sul do país possuem capacidade intelectual bem mais elevada que os moradores da periferia brasileira, das colônias exportadoras de matérias-prima: o Norte e Nordeste.

Nós(habitantes da periferia) contribuímos sim para essa falsa impressão que os atributos geográficos sejam determinantes de nossa inferioridade, e isso se confirma cada vez que supervalorizamos pessoas de fora em detrimento das de dentro. Toda vez que achamos graça das gozações quanto ao sotaque que nosso sofrido povo possui, aí sim, em decorrência de sua posição geográfica.

É realmente detestável, triste e decepcionante achar quem se deixe rotular devido a esse regionalismo(será que pode-se chamar xenofobia) exacerbado e assim contribuindo para um país cada vez mais fragmentado, fraco e expectador em vez de coeso, forte e determinante na história do país, salvo em copas do mundo.

Cometer esse erro é o mesmo que achar que por não serem de sangue, amigos não possam vir a ser tão ou mais importantes que certos membros consangüíneos que não entendem metade do significado de fraternidade, honestidade e cooperação.


Eduardo Leite

Saturday, February 25, 2006

Via Crucis

É passado. Relíquia de outra estação, já foi moda estampada nos jornais. Hoje não passa de anuncio das revistas já extintas. Hoje é uma lembrança que os pais contam com emoção.
Havia de verdade um tempo onde existia o amor. Mas hoje, nem se fala mais nele. Está em cada esquina dos becos das prostitutas. Todas recebendo nomes carinhosos para algo já crucificado há muito tempo.
Mataram o amor e esqueceram de investigar quem foi o culpado. E pouco a pouco nos corações foi morrendo, até se tornar obsoleto como as televisões em preto e branco. Hoje não se encontra amor nem em sebos ou lugares com peças de segunda mão. Virou artefato de colecionador.
Hoje todo mundo diz eu te amo. Congele um dia na vida de alguém que você verá quantas pessoas lhe prometerão maravilhas. Quantas delas tecerão elogios afetivos, chamando-a de amor, como se realmente soubessem o que ele quer dizer. Como se ainda existisse. Como se fazer isso não fosse um mero artifício.
As pessoas prostituíram o amor. Não gostaria de me colocar como exemplo, mas ainda nessas mãos que os escreve, posso contar nos dedos quantas vezes disse "eu te amo". Ela, a morena que tanto me encanta e me comove como uma valsa, sabe que posso proferir essas minhas três palavras trazendo o sentimento mais puro de nosso amor. Mas um único galo não faz manhã.
De tanto dizerem te amo, o amor perdeu a força, foi se abatendo. Sendo consumido pouco a pouco por homens que só desejam mais e mais a volúpia incomensurável e não o amor. Amor demora demais, não serve para o mundo fast food.
O amor estuprado, não prestou depoimento na polícia. Foi deixando, deixando que invadissem seu âmago, e agora morreu em nossas mãos. E não volta a vida nem com choques elétricos vindos do desfibrilador.
Como posso lhe explicar o meu amor, se há dezenas de homens lá fora querendo você como quero? Como seus olhos podem notar a diferença sutil daquilo que é dito com verdade se todos falam "eu te amo" mastigando o alimento e salivando no canto das bocas? O amor profanado apaga os meus sentidos e atam minhas mãos.
Sou assim, uma relíquia, e em breve serei esquecido. Rirão de minha cara como o último homem a acreditar no amor. Serei artista do Circo dos Horrores onde atirarão em mim pedaços de frutas que serão meu alimento miserável.
Confesso que tentei, mas choro, com a alma podre de ser humano.
Sei que minha raça desumana matou a única salvação que cessaria nosso sofrimento: Amor.

Thiago Augusto
(27-01-05)

O caso Katilce

Segunda-feira (20/02/2006), show do U2 no estádio do Morumbi, em São Paulo. São mais ou menos 23:30, e Bono Vox, vocalista da banda, convida uma garota para subir no palco e lhe fazer companhia enquanto canta "With or without you", talvez a mais romântica das canções da banda.

Os fãs do quarteto irlândes já estão acostumados a assistir tal cena. Na turnê "Pop-Mart", em 1998, no Rio de Janeiro, Bono fez o mesmo. E em tantos outros shows da banda que não assisti.

Nesta turnê não seria diferente. Não apenas eu, mas creio que todos os fãs da banda, esperavam por aquele momento que quase sempre é de muita emoção.

Mas, não sei por quê, quando Bono pediu para levarem a garota até o palco, tive a sensação de que algo não estava certo.

Não senti o "clima" de "With or without you". No momento em que The Edge tocou os primeiros acordes da canção, parece que Bono pensou "Bom, lá vou eu de novo". A garota subiu no palco toda sorridente e não chorou em momento algum da música. Não é uma regra, mas ela deveria ter chorado.

O que importa é que eu estava certo. As "condições climáticas" daquele momento não foram favoráveis a "With or without you". A garota - Bono perguntou seu nome, chama-se Katilce -, quando estava prestes a voltar do lugar de onde veio, pediu um beijo ao vocalista. Ele, que algumas músicas antes dera um selinho em Adam Clayton, o baixista, fez o mesmo com ela.

Terça-feira (21/02/2006), 11:00, mais ou menos. Um amigo (Thiago, um dos meus comparsas de blog) me manda, via MSN, o link para o perfil de Katilce no Orkut (site de rede de contatos no qual cada usuário tem uma página com seu perfil, fotos, uma página para recados, e outras para expor informações que desejar, como telefone, email, site, etc.).

Curioso que sou, vou conferir. No álbum de fotos dela, uma do Bono.

Noto que ela tem uma quantidade de recados muito grande (qualquer participante do Orkut pode deixar recados para qualquer outro usuário). Clico na página de recados. Muitos, mas muitos mesmo. Centenas de pessoas acessam o perfil de Katilce. Alguns anunciam produtos ou serviços. Alguns são hostis. Outros, amigáveis. A maioria é sem noção mesmo. Alguém deixa um link. Clico. Vou parar numa comunidade que criaram para ela.

Na verdade, em uma das dezenas de comunidades que fizeram em sua "homenagem". São tantas, e tão absurdas, que não vale a pena citar nomes. Darei apenas um exemplo: "Katilce para presidente".

O transtorno para ela seria enorme se fosse apenas isso. Mas tem mais.

Alguém descobre seu telefone, o telefone de sua irmã, encontram o perfil do seu namorado. E espalham todas essas informações. O rapaz se torna motivo de piadas e hostilidades. Até uma negociação que ela fizera num site de leilões - pretendendo comprar um cd de tiragem limitada do U2 - conseguem descobrir.

Eu poderia discorrer sobre o que - por coincidência - meu professor de teoria literária (o escritor Mayrant Gallo) - comentou conosco em uma de suas últimas aulas: vivemos na época do efêmero, das celebridades instantâneas.

Mas não. Disso todos estamos carecas de saber.

Digo apenas que o inferno que Katilce vive no momento - porque é um inferno ter sua vida invadida dessa maneira - é obra de nossa juventude. Pois são jovens os que ligam para Katilce, comentam bobagens nas comunidades e importunam o seu namorado. Juventude essa da qual faço parte.

Madrugada de quinta-feira (23/02/2006), 01:45, mais ou menos. Escrevo esta crôniqueta e me pergunto o que os jovens farão com o nosso futuro.

Prefiro não saber.



Rafael Rodrigues