Saturday, February 25, 2006

Via Crucis

É passado. Relíquia de outra estação, já foi moda estampada nos jornais. Hoje não passa de anuncio das revistas já extintas. Hoje é uma lembrança que os pais contam com emoção.
Havia de verdade um tempo onde existia o amor. Mas hoje, nem se fala mais nele. Está em cada esquina dos becos das prostitutas. Todas recebendo nomes carinhosos para algo já crucificado há muito tempo.
Mataram o amor e esqueceram de investigar quem foi o culpado. E pouco a pouco nos corações foi morrendo, até se tornar obsoleto como as televisões em preto e branco. Hoje não se encontra amor nem em sebos ou lugares com peças de segunda mão. Virou artefato de colecionador.
Hoje todo mundo diz eu te amo. Congele um dia na vida de alguém que você verá quantas pessoas lhe prometerão maravilhas. Quantas delas tecerão elogios afetivos, chamando-a de amor, como se realmente soubessem o que ele quer dizer. Como se ainda existisse. Como se fazer isso não fosse um mero artifício.
As pessoas prostituíram o amor. Não gostaria de me colocar como exemplo, mas ainda nessas mãos que os escreve, posso contar nos dedos quantas vezes disse "eu te amo". Ela, a morena que tanto me encanta e me comove como uma valsa, sabe que posso proferir essas minhas três palavras trazendo o sentimento mais puro de nosso amor. Mas um único galo não faz manhã.
De tanto dizerem te amo, o amor perdeu a força, foi se abatendo. Sendo consumido pouco a pouco por homens que só desejam mais e mais a volúpia incomensurável e não o amor. Amor demora demais, não serve para o mundo fast food.
O amor estuprado, não prestou depoimento na polícia. Foi deixando, deixando que invadissem seu âmago, e agora morreu em nossas mãos. E não volta a vida nem com choques elétricos vindos do desfibrilador.
Como posso lhe explicar o meu amor, se há dezenas de homens lá fora querendo você como quero? Como seus olhos podem notar a diferença sutil daquilo que é dito com verdade se todos falam "eu te amo" mastigando o alimento e salivando no canto das bocas? O amor profanado apaga os meus sentidos e atam minhas mãos.
Sou assim, uma relíquia, e em breve serei esquecido. Rirão de minha cara como o último homem a acreditar no amor. Serei artista do Circo dos Horrores onde atirarão em mim pedaços de frutas que serão meu alimento miserável.
Confesso que tentei, mas choro, com a alma podre de ser humano.
Sei que minha raça desumana matou a única salvação que cessaria nosso sofrimento: Amor.

Thiago Augusto
(27-01-05)

1 Comments:

At Monday, February 27, 2006 6:00:00 PM , Blogger 3 Vozes said...

Pois é, meu caro. Tudo é banal nos dias de hoje ;)Abraço, Rafael

 

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