Sunday, February 26, 2006

Geografia

Acho que o motivo de ser do texto que escrevo nesse momento é sentimento de inferiorização e estou tomando o segundo método de resolução deste problema interno, o primeiro seria a negação e o terceiro a autopiedade; neste momento achei por bem exorcizar meus demônios no teclado.

Nasci em um país injusto, não um pouco injusto, bastante injusto e que, com certeza todos que têm o mínimo de curiosidade e paciência comprar um jornal e realmente ler conhecem de cor e salteado as freqüêntes notícias sobre o problema da exploração do menor, a fome, a seca, e o problema base para a estagnação de todos nessa situação deplorável que inclusive trata-se de um dado até um pouco recente: o número cada vez maior de analfabetos funcionais.

Analfabeto funcional é todo aquele que sabe escrever seu nome sim e até um bilhete, mas que não é capaz de compreender um texto que lê, mesmo que o cite em voz alta e com certa dificuldade. Isso é bem comum, tanto quanto o número de pessoas que ouvem e não entendem. Nada mais fácil que manipular pessoas ignorantes.

Minha região é bem conhecida por sua fama em abrigar pessoas ignorantes, cabras-da-peste que sempre andam com uma peixeira no bolso para resolver qualquer problema, pessoas que são privadas da educação eficaz(assim como a maioria dos brasileiros) que seria a que encoraja a autonomia.

Surpreendo-me por encontrar rodas onde discutem-se questões já maçantes e antigas na época dos grandes filósofos gregos como Sócrates e Platão, questões que poderiam ser entendidas à luz de simples obras escritas e publicadas em qualquer biblioteca pública. Mas parece que ser conhecido como intelectual ou um estudioso(entenda-se esta palavra simplesmente como alguém que estuda algo) como algo marginalizado, ruim, degradante, cômico até. Estamos muito acostumados com o que nossos veículos de entretenimento pregam com sendo “legal”, modelos com muita forma e nenhum conteúdo em todas as áreas concebíveis. É quase inconcebível encontrar pessoas que se dão o trabalho de discutir com adeptos do “Design Inteligente”(criacionismo) em prejuízo da Evolução das Espécies , os dados estão aí em qualquer livro de 5ª série, que aliás estão querendo que sejam retirados tais conteúdos dos mesmos nos EUA.

Essa falta de informação, de medo do ridículo é que proporcionam certo fenômeno observado por minha pessoa em minha cidade. Não tão difícil de entender, mas revoltante por demais para se aceitar, apenas constructos de uma sociedade insipiente.

Existe essa cultura, no Brasil, de que os habitantes dos grandes pólos do Centro-sul, Sudeste e Sul do país possuem capacidade intelectual bem mais elevada que os moradores da periferia brasileira, das colônias exportadoras de matérias-prima: o Norte e Nordeste.

Nós(habitantes da periferia) contribuímos sim para essa falsa impressão que os atributos geográficos sejam determinantes de nossa inferioridade, e isso se confirma cada vez que supervalorizamos pessoas de fora em detrimento das de dentro. Toda vez que achamos graça das gozações quanto ao sotaque que nosso sofrido povo possui, aí sim, em decorrência de sua posição geográfica.

É realmente detestável, triste e decepcionante achar quem se deixe rotular devido a esse regionalismo(será que pode-se chamar xenofobia) exacerbado e assim contribuindo para um país cada vez mais fragmentado, fraco e expectador em vez de coeso, forte e determinante na história do país, salvo em copas do mundo.

Cometer esse erro é o mesmo que achar que por não serem de sangue, amigos não possam vir a ser tão ou mais importantes que certos membros consangüíneos que não entendem metade do significado de fraternidade, honestidade e cooperação.


Eduardo Leite

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