Saturday, September 02, 2006

Mariana - Parte Final

Num quarto mal iluminado, sentiu recobrar a consciência. Aos poucos, a vista antes embaçada, formou uma imagem, revelou a silhueta de seu algoz. Havia algo de macabramente familiar no rosto coberto do seqüestrador e podia dizer que não parecia mais ser o homem com que encontrou no bar. Quando lhe voltou o rosto teve uma surpresa surreal! Ele não tinha rosto. Sentiu como se não houvesse ainda despertado do sonho; chorava e debatia-se no chão, oprimida pelas cordas que comprimiam seu corpo. O estranho opressor aproximou-se e cochichou em seu ouvido enquanto acariciou seus seios fartos: “Deve ter sacaneado feio com algum homem. Uma vadia de classe alta, hein? Vai ser uma delícia te matar!”. E então o desespero tomou conta dela, seu destino estava selado, iria morrer.

Pulmões esvaziados num grito ensurdecedor e depois escuro, silêncio. Aos poucos abriu os olhos e observou bem ao seu redor. Seu quarto, sua casa. Estaria a salvo? Sua mãe de pronto chegou no quarto, no mínimo perturbada: “O que aconteceu Mariana, que grito foi esse?”, “Não! Nada, mãe, um pesadelo. Desculpe, preciso ir no banheiro agora.”. Dirigiu-se para o toalete e pôs-se a refletir naquele sonho maluco; resolveu ir tomar um banho para por as idéias em ordem.

Na ducha tentou refletir sobre sua vida e o que significaria aquele sonho, mas não tinha prática em refletir. Ser racional não era seu forte, era mais fácil relativisar e justificar que voltar atrás. Tomou o sonho como um aviso e resolveu fazer uma mudança radical em sua vida. Buscaria ser mais comprometida com as pessoas que estivesse e não mentir mais, iria tentar, pelo menos. Também não iria se dar o direito de enganar ninguém, mesmo que virtualmente. E com esse pensamento vestiu seus jeans desbotados, porém grudados ao corpo, sua camisa decotada e uma sandalinha para não sentir-se desconfortável. Saiu de casa pensando que seria a última vez que iria encontrar um desconhecido, seu namoro já tinha dado o que tinha de dar e que mal poderia fazer dessa última vez? Afinal de contas, já havia marcado mesmo.


Eduardo Leite

1 Comments:

At Tuesday, September 19, 2006 11:29:00 AM , Blogger 3 Vozes said...

hhehe demorei, mas li. Quer dizer que não podemos fugir do nosso destino, sr. Dudu? tadinha da Mariana. Abração, meu rei!, Rafael

 

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