Friday, August 25, 2006

Depois da primeira vez

Ele, no assento do motorista, segue nervoso e pensa coisas que não pode dizer para quem está ao seu lado, também nervosa. Mas, ao contrário dos pensamentos dele, os dela poderiam ser revelados sem trazer dano algum.

Calados. Eles estão calados. As poucas palavras ditas são ditas mais para um ser inexistente dentro daquele carro. Não há diálogos, apenas curtos monólogos.

O fato a ser consumado dentro de alguns minutos foi estudado e planejado por ambos durante dias. O álibe de uma festa de aniversário, o presente comprado por ela, para o tio dele, que receberia felicitações por telefone, pois eles iriam ao aniversário do tio dela (a desculpa que ele deu em casa para não ir à festa do único irmão de seu pai). O presente, seria entregue no dia seguinte, por ambos.

Voltar. Ele pensa em voltar. Mas pensa também que essa idéia é apenas uma conseqüência do estado emocional em que se encontra: ansioso, nervoso. Há confusão em sua mente. Tenta ignorar seus pensamentos, tenta pensar em alguma outra coisa.

E mais um longo silêncio. Ele dirige devagar. Suas mãos e pernas tremem um pouco.

Um pouco.

Enquanto que ela imagina como deve ser. Se vai doer. Se vai sangrar. Se vai gostar. Se é muito grande. Mas não fala. Ela não fala. Ela quer. O falo.

Ele não. Ele não está preocupado com isso. Em como deve ser. Se vai doer. Se vai sangrar. Se ela vai gostar. Não é isso. Nunca foi.

Chegaram no lugar escolhido. A casa dele. Vazia. Saíram todos para o tal aniversário. Tinham duas horas para fazer tudo, no mínimo.

E então aconteceu.

A dor física, o sangue, o tamanho, nada disso importou para ela. Estava deitada com o homem que escolhera para ser o seu primeiro – e único – homem. Adormeceu, ainda nos braços do gozo.

Ele encarava o teto branco de seu quarto. Pensando no que acabara de fazer.

Levantou-se, tomando cuidado para não acordá-la. Procurou caneta e papel. Escreveu um bilhete que colocaria na bolsa dela, antes de deixá-la em casa.

Com os dizeres “eu não te amo mais”.


Rafael Rodrigues

1 Comments:

At Wednesday, August 30, 2006 12:55:00 PM , Anonymous Anonymous said...

Caramba! Q final hen...
Estou por aqui matando saudades.
Eli

 

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