Wednesday, May 17, 2006

Patriotismo

Você iria para a guerra por seu país?

O governo brasileiro vira e mexe nos coloca numa situação delicada, controversa até. Confesso que provavelmente sou tão vocacionado para a política quanto a Carla Perez para a biologia, mas certos acontecimentos realmente não passam despercebidos e perdido em pensamentos tento racionalizar os eventos recentes.

Não é de hoje que os preços de combustível disparam numa P.A. alucinante, mas convenhamos que, devido ao descontentamento de certas mentes pensantes e participantes os cartéis foram reduzidos e há concorrência entre os postos que oferecem de promoções até suquinhos, água, cafezinho para os clientes. Mas continua subindo em detrimento às baixas do dólar, a Petrobrás dar conta de abastecer o país, mesmo assim continua subindo.

Uma das soluções encontradas pelo governo, anos atrás, quando o petróleo estrangeiro subiu às alturas foi a campanha pró-álcool que desenvolveu a tecnologia para utilizar o estrato da cana de açúcar para movimentar os carros, uma tecnologia que causou deterioração precoce dos motores, problemas com a partida pela manhã, em resumo, muita dor de cabeça, mas ajudou a resolver o problema e nos deu uma alternativa para fugir dos preços altos.

Com o fim da Guerra do Golfo, estabilização do preço dos barris, voltamos com os carros a gasolina e os a álcool foram esquecidos, apesar do preço da gasolina ser consideravelmente caro e trazer problemas para a sofrida classe trabalhadora brasileira. Graças às intervenções divinas da tecnologia que faz uso da ciência em prol da humanidade, diferentemente da politicagem que faz uso da arte de ludibriar para reinar sobre a humanidade, foi descoberta uma maneira de utilizar o gás natural para mover os mesmos veículos com um custo mais baixo, apesar do investimento inicial para adaptar o mesmo ao novo combustível.

O gás também trouxe alguns problemas mecânicos, desgaste do motor e etc, mas com a o desenvolvimento da tecnologia, os carros adaptaram-se melhor e, inclusive, carros com a tecnologia de fábrica foram postos à venda. Foi um incentivo tão forte e genial que impulsionou a tecnologia do álcool de volta aos carros, criando os modelos Flex, de flexibilidade, que permite a utilização dos dois combustíveis, álcool e gasolina, combinados ou não, e alguns com as 3 opções. Um paraíso para os brasileiros, principalmente com os esforços da Petrobrás em investir no gasoduto proveniente da Bolívia para o Brasil, parceria que movimentou bastante o Mercosul e nos deu muitas novas perspectivas.

Mas alegria de brasileiro dura pouco, ditado, ou sabedoria do senso comum que mais faz sentido em qualquer realidade imaginável e que um dia pretendo provar por procedimentos empíricos que trata-se de, não uma teoria, mas uma lei tão certa quanto a da gravitação universal, e aconteceu o que todos esperavam, mas não tão cedo, a alta dos preços. Primeiramente com o álcool, o preço do barril de petróleo aumentou fazendo a gasolina aumentar que por sua vez fez o álcool aumentar? É uma lógica um tanto mística para ser entendida racionalmente. Como o álcool aumentou? O álcool vem da cana-de-açúcar, cultivada aqui no nordeste nas estradas que ligam a Paraíba a Pernambuco e sabe-se lá mais onde, até no meu quintal poderia cultivar cana, cana cresce em concreto, cana cresce na corcunda de gado, cana não vem do interior do oceano ou da terra, cana se planta, é um meio renovável, abundante, o que diabos acontecera? Não tivemos muito tempo para tentar aceitar este fato pela fé e logo tivemos um outro baque. O presidente da Bolívia, Evo Morales, orquestrou um exemplo de tirania inspirada nos déspotas mais descarados da história como Hitler, Mussolini, Napoleão, etc e seu governo nacionalizou o gás e Petróleo extraídos e vendidos em seu país, comandando 82% e elevando o custo dos mesmos produzidos lá, resultado? Não vou ousar concluir o raciocínio, subestimando o senso do leitor.

Os mais sensacionalistas mencionam guerra, sussurrando nos ouvidos dos companheiros de bar sobre a possibilidade de um jumento manco atacar uma árvore. O Brasil não é a França onde o jovem vai para a rua reclamar seus direitos, enfrentando as autoridades para fazerem-se ouvidos, o brasileiro foi muito entorpecido pelos colégios, igrejas e universidades que tiraram de nosso alcance a autonomia que deveríamos ter, hoje em dia jamais reproduziríamos o frenesi causado pelo movimento contracultura que incendiou o Woodstock nos EUA onde formou-se, no estado de Nova Iorque, a segunda maior cidade, um aglomerado de mais de meio milhão de pessoas protestanto contra a guerra, contra o puritanismo, em prol de sua ideologia de paz e amor, sexo, drogas e rock’n’roll como nossos intelectuais brigaram durante o governo militar nas ruas, em versos, em músicas em ação mais que em pensamentos por qualquer que seja o motivo, apenas falar fazer-se ouvido, exprimir o grito de insatisfação de uma nação condenada desde sua conquista a ser colônia do resto do mundo, a ser oprimida e sufocada, não só pelos governos das maiores potências do mundo, como também por seus “parceiros” da América do Sul, como, principalmente pela minoria inexpressiva da população que retém a maior parte do capital e esmaga a classe média e baixa como sustentáculo de seus tempos romanos oferecendo pão e circo como faziam há 2000 anos.

Somos uma nação inexpressiva, domada por uma religião maligna e “emburrecedora” que nos deixa numa posição contemplativa e coniventes com a tamanha desonestidade que corrói todos os pilares da nossa nação, desde os governantes, sujos e hipócritas, a mídia manipuladora e tendenciosa, descendo à justiça submetida aos anteriores, podre, caduca, cega e surda, e continua pelas forças armadas, polícias civil, federal, militar, traficantes e o povo que sempre quer levar vantagem em tudo.

Não somos apenas inexpressivos, somos sabotadores de nós mesmos, o nosso inimigo mora na casa ao lado, nos nordestinos que lotam as favelas do sudeste, nos sudestinos que odeiam arbitrariamente os nordestinos e sulistas e por aí vai montando um estratagema bem delineado pelas instituições para conseguir manter seu domínio. Somos todos inimigos e essa desunião nos enfraquece para tomar a decisão de mudar a situação que nos encontramos. Nos falta cultura para isso, ela nos foi tirada pela mídia, pelas escolas, pelo futebol, pelas drogas, por nossos pais, pela religião. Somos órfãos de compatriotas, estamos sós.

Eu não iria à guerra pelo Brasil, iria, talvez, pela Bolívia. Radical, anti-patriota? Jamais! Gostaria de depor esse governo sórdido e arrasar com todos que bebem champanhe às custas dos meus impostos. Estou cansado de pensar que o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo enquanto nosso povo morre por causa da miséria, com tiros de AR-15 de traficantes, as universidades cada vez mais arruinadas... não nasci no país errado, tão pouco na época errada. Os responsáveis pela nossa ruína também não estão errado, eles fazem apenas o que permitimos que eles façam.

Nossa covardia tem custado caro e vai perpetuar nossa amargura por épocas sem sim. Nosso choro contido, grito abafado só serão exorcizados como nesse texto. Libertos, disponibilizados, porém ignorados. Até porque não é difícil escrever um monte de desaforos sobre o que todos estão cansados de escrever e falar, difícil é sair na rua e se fazer ouvido, difícil é enfrentar o guarda na rua que pede propina, difícil é fazer as pazes com o vizinho e de mãos dadas, com uma só mente, um só objetivo, fazer-se realmente ouvido.


Eduardo Leite

1 Comments:

At Friday, May 19, 2006 5:18:00 PM , Blogger 3 Vozes said...

É Dudu, você falou de uma coisa importante. De nossa inércia. Mas o pior é que essa inércia, ou falta de atitude, se dá justamente pelo que você disse: falta de cultura/educação. Na França e nos EUA, países que sempre têm grande mobilização pública, o esquema é outro. A educação é outra, a mentalidade é outra. Aqui no Brasil pensamos pequeno, achamos que está tudo bem, e ao invés de sair nas ruas, escrevemos em blogs. E se a gente for comentar de sair pra rua, vão nos achar ridículos. Eu fui pra rua uma única vez, fazer zoada por uma boa causa. Mas que saber? O que vi foi muita gente de oba-oba, só de curtição, muitos sem nem saber o que estava sendo reivindicado. Nosso país é um círculo vicioso, e não sei se existe a possibilidade de quebrá-lo, essa é a verdade. Talvez precisemos mesmo de um salvador da pátria. Se Sassá Mutema não fosse ficção, talvez houvesse jeito. Mas ainda acredito no PT. Tenho esperança, ao menos.

 

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