Os bastidores do subúrbio
Não tinha nem ventilador, o lugar. Apenas alguns poucos móveis. Se bem me lembro: uma cama, uma escrivaninha, um pequeno guarda-roupa, e só. O que, na verdade, não importa. O fato de aquele quarto ser um simples – em todos os sentidos que possam existir – quarto, não diminui a importância do ocorrido dentro dele.
Foi há muito tempo. Algo aconteceu ali, e ninguém jamais soube. Nem eu. Quando finalmente percebi a gravidade do que ocorrera, dois anos haviam se passado. E muita coisa mudou.
Vendemos a velha casa. Meus pais decidiram morar em um apartamento um pouco mais espaçoso que nosso antigo lar. Seria mais seguro e estaríamos mais próximos do centro da cidade. Eles poderiam acordar um pouco mais tarde para irem trabalhar, e eu para estudar.
Sentimos falta de nossa vizinhança, claro. Bem, nem de toda ela. Foi ótimo termos nos afastado de um bar que abriram quatro casas depois da nossa. De lá, ouvíamos músicas horríveis, palavrões piores ainda e, de quinze em quinze dias, a sirene da polícia ou tiros. Às vezes, ambos.
Por sorte nada de grave aconteceu conosco ou com nossos vizinhos. Algumas casas tiveram janelas e paredes invadidas por balas, mas entre gritos e correrias, nenhum ferido. Entre os vizinhos, claro. Lá fora, só Deus sabe o que acontecia. Deus e as vizinhas que nada tinham a fazer, a não ser investigar o ocorrido da noite anterior.
Algum tempo depois, a polícia solicitou – por assim dizer – que o bar encerrasse suas atividades. Na verdade, os donos foram presos por tráfico de drogas.
Eu ficava sabendo de tudo isso de dentro do meu quarto. Quem me contava as notícias era a Rosinha, pois eu não ficava atento ao que acontecia nos bastidores do subúrbio.
Era lá que eu passava a maior parte do meu tempo. Lendo ou tocando violão. Era o que eu gostava de fazer. E continuo fazendo até hoje.
Foi no meu quarto que, um dia, Rosinha e eu (tínhamos então quatorze anos) matamos aquele menino.
O menino que havia em mim.
Foi há muito tempo. Algo aconteceu ali, e ninguém jamais soube. Nem eu. Quando finalmente percebi a gravidade do que ocorrera, dois anos haviam se passado. E muita coisa mudou.
Vendemos a velha casa. Meus pais decidiram morar em um apartamento um pouco mais espaçoso que nosso antigo lar. Seria mais seguro e estaríamos mais próximos do centro da cidade. Eles poderiam acordar um pouco mais tarde para irem trabalhar, e eu para estudar.
Sentimos falta de nossa vizinhança, claro. Bem, nem de toda ela. Foi ótimo termos nos afastado de um bar que abriram quatro casas depois da nossa. De lá, ouvíamos músicas horríveis, palavrões piores ainda e, de quinze em quinze dias, a sirene da polícia ou tiros. Às vezes, ambos.
Por sorte nada de grave aconteceu conosco ou com nossos vizinhos. Algumas casas tiveram janelas e paredes invadidas por balas, mas entre gritos e correrias, nenhum ferido. Entre os vizinhos, claro. Lá fora, só Deus sabe o que acontecia. Deus e as vizinhas que nada tinham a fazer, a não ser investigar o ocorrido da noite anterior.
Algum tempo depois, a polícia solicitou – por assim dizer – que o bar encerrasse suas atividades. Na verdade, os donos foram presos por tráfico de drogas.
Eu ficava sabendo de tudo isso de dentro do meu quarto. Quem me contava as notícias era a Rosinha, pois eu não ficava atento ao que acontecia nos bastidores do subúrbio.
Era lá que eu passava a maior parte do meu tempo. Lendo ou tocando violão. Era o que eu gostava de fazer. E continuo fazendo até hoje.
Foi no meu quarto que, um dia, Rosinha e eu (tínhamos então quatorze anos) matamos aquele menino.
O menino que havia em mim.
Rafael Rodrigues
1 Comments:
Crítica social?
Abçs
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