Sunday, March 05, 2006

O padre pinto

Ele bem que poderia ter outro sobrenome. Talvez conseguíssemos levar um pouco mais a sério o seu caso.

Estou me referindo ao Padre Pinto, de quem tanto andam falando por aí. Falando e fazendo trocadilhos: “Padre Pinto solta a franga”, “Mandaram o Pinto ciscar em outro lugar”, “E se ele virar Papa? Seria o Papa Pinto!”, “Botaram o Pinto pra fora”, só para citar alguns.

Pra ser sincero, não sei bem quando a história do Padre Pinto começou. Pelo que li e ouvi dizer, uma matéria do Fantástico apresentou ao Brasil, direto de Salvador, Bahia, este padre inusitado. Ele se fantasiou, se maquiou, dançou, rebolou, tudo isso por ocasião da Festa de Reis. Me corrijam nos comentários se eu estiver enganado.

Pois é. E a Igreja não gostou nada disso. Claro que não. Como poderia gostar? Vossa Santidade, Bento XVI, pouco depois de nomeado como Papa, disse que a música pop e o rock’n’roll são “distrações profanas para a fé cristã”. Ele – o papa -, também condena as “showmissas”, como as do Padre Marcelo Rossi. A Igreja ainda insiste em ser contra o uso de camisinhas. O que fazer com um padre que invoca figuras do candomblé numa missa? (Foi o que também fez o padre na Festa de Reis). Colocaram o Pinto pra fora. (Me perdoem, não pude resistir). Afastaram o padre de sua paróquia.

Pois é, o Pinto caiu. Mais um trocadilho. (Mais uma vez peço perdão pelo trocadilho infame).

E o alvoroço só havia começado. A notícia pipocou no início de janeiro. Fiquei sabendo do tal padre já no final do mês, quando, indo ao shopping com um amigo, paramos por alguns minutos na banca de revistas de seu tio. Este último nos contou a história – além de fazer uma imitação hilária do padre – que, para mim, não passava de uma anedota. Vendo que eu não acreditava, puxou um jornal local e me mostrou a notícia.

Me limitei (e o Word insiste em querer que eu digite “limitei-me”) a dizer que o padre deveria estar doido, e achei que a notícia fosse morrer ali.

Queimei minha língua. Desde então o Padre Pinto é notícia em todo o país. Recentemente esteve no Festival de Verão em Salvador. Deu selinho em Caetano Veloso. A convite da banda de pagode Psirico, subiu ao palco e abençoou a multidão presente na festa. Foi jurado no concurso “Deusa do Ébano do Ilê Aiyê 2006” e a imprensa não cansa de citar que o Padre Pinto estava animadinho demais, sempre com um copo de cerveja em mãos.

E eu? O que estou fazendo se não repetindo as palavras da imprensa e do alto clero da Igreja, insinuando que o padre tenha bebido demais no festival e que ele está com “um parafuso a menos”, respectivamente?

Tenho meu próprio julgamento sobre as ações do padre. Penso que ele se excedeu na Festa de Reis, e ele mesmo já admitiu isso. Mas sou contra seu afastamento da paróquia da Lapinha, de onde é representante há mais de 30 anos. Todo homem merece uma segunda chance. Para a Igreja Católica, que tanto prega o perdão, perdoá-lo não deveria ser difícil.

A verdade é que o problema não está no Padre Pinto. O problema está na Igreja. Mas nesse assunto eu não me meto.


Rafael Rodrigues

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